segunda-feira, 10 de setembro de 2012

QUANDO AS RECORDAÇÕES DESAPARECEM...

A vida do senhor B mudou drasticamente há cerca de 30 anos. Depois de um episódio de encefalite herpética, ele perdeu a funcionalidade de estruturas cerebrais que integram os circuitos da memória explícita, responsável pelas recordações conscientes. Desde então, mesmo falando e movimentando-se normalmente, não consegue recordar nada por mais de 40 segundos. B perdeu também a percepção do gosto, provavelmente por danos na ínsula e no córtex órbito-frontal, e não reconhece o sabor de comidas ou bebidas. Tudo que o senhor B viveu à menos de um minuto simplesmente desaparece. Para ele não há passado.

No cinema, situações que envolvem personagens com danos cerebrais e perda da memória são freqüentes. Inevitavelmente a questão temporal permeia as tramas. O intrigante Amnésia (2000), de Christopher Nolan, por exemplo, apresenta a história de um homem que teve sua mulher assassinada e, indignado, parte em busca do criminoso, Mas ele tem um problema: após o crime, não consegue reter na mente as situações vividas recentemente, o que o deixa a mercê de anotações - algumas tatuadas no próprio corpo. Para construir o filme, o diretor procurou seguir o modo como o protagonista reconstrói as próprias lembranças: de trás para a frente, numa espécie de corrida contra o tempo.

Na comédia romântica "Como se fosse a primeira vez", o biólogo marinho Henry, personagem de Adam Sandler, também tenta driblar o tempo, mas com outro objetivo: conquistar sua amada lucy, vivida por Drew Barrymore. Após sofrer um acidente de carro e passar por uma cirurgia no cérebro, ela está condenada a reviver sempre o mesmo dia, anterior ao trauma - e a recordar apenas o que ocorreu até a véspera. Todos os registros posteriores se diluem na manhã seguinte. Quando Henry se apaixona por ela, encontra dificuldades óbvias em levar o namoro à frente, considerando que toda manhã, ao acordar, Lucy já se esqueceu dele. Como construir um futuro, se o passado não se fixa, pergunta-se o personagem. Ele encontra a resposta: apresentar, a cada dia, uma espécie de "compacto afetivo": filmes, fotos e anotações com o resumo do que foi vivido pelo casal e evoca o vínculo amoroso. A cada dia, Henry tem o mesmo desafio: apaixonar-se de novo pela mesma mulher. E esperar que ela faça o mesmo.

Fonte: Revista, Mente e Cérebro